Transumância da Serra da Estrela pode vir a ser Património Cultural Imaterial

homem com ovelhas e cabras

A transumância da Serra da Estrela está em processo de consulta pública para a sua inscrição como Património Cultural Imaterial. Esta prática ancestral, uma das mais antigas da Europa rural, poderá ganhar reconhecimento oficial.

O processo de inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial está aberto a consulta pública durante 30 dias, conforme estipulado no despacho publicado esta quarta-feira no Diário da República. A decisão final será tomada 120 dias após o término do período de consulta.

A iniciativa de abrir a consulta pública partiu do presidente do Conselho Diretivo do Património Cultural, João Soalheiro, no dia 21 de fevereiro. Seguindo o despacho publicado, os documentos relacionados com o processo estão disponíveis para consulta no site do Património Cultural ou no arquivo da Divisão de Cadastro, Inventário e Classificação, no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa.

As observações referentes à consulta podem ser enviadas para o email inpci@patrimoniocultural.gov.pt ou por correio registado ao Património Cultural.

O que é a transumância?

A transumância é um fenómeno que envolve a deslocação sazonal de ovinos, ocorrendo anualmente no início do verão. Durante esse período, os pastores conduzem os seus rebanhos para os pastos em altitude da Serra da Estrela, onde permanecem durante os meses mais quentes do ano.

“Na transumância, os rebanhos são conduzidos para as pastagens de altitude da serra, onde as ervas, relativamente aos campos da terra chã, permanecem verdejantes até mais tarde”, explica José Conde, biólogo do Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE), ao Turismo Centro Portugal.

Esta tradição, ainda viva nos concelhos de Gouveia e Seia, no distrito da Guarda, reflete as alterações naturais, sociais e culturais das paisagens envolventes, conforme descrito na fundamentação da candidatura.

Durante a transumância, algumas ovelhas carregam grandes chocalhos e são adornadas com enfeites de lã coloridos. “Esse costume visa evidenciar a riqueza do rebanho”, comenta José Conde, explicando que apenas os bodes castrados, conhecidos como “chibos”, recebem tais decorações. “Os animais castrados são mais corpulentos e mais focados na subida, distraem-se menos com outros ‘afazeres’. Ter animais sem uma função útil óbvia demonstra a riqueza do rebanho e os enfeites dão destaque a esse luxo”.

As rotas da transumância podem durar entre 3 a 4 dias, podendo em alguns casos prolongar-se por mais tempo, reforçando a importância desta prática ancestral na cultura local e na identidade dos pastores da Serra da Estrela.

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