O Município de Trancoso vai assinalar, no próximo domingo, 20 de abril, a tradicional “Queima do Judas”, um dos rituais mais emblemáticos e peculiares da quadra pascal. A celebração decorre no Largo do Campo da Feira e tem início marcado para as 16h00, segundo informações da autarquia.
Trata-se de uma tradição ancestral, carregada de simbolismo, que atravessa séculos e se mantém viva no coração da comunidade trancosense. Personificado por um boneco rudimentar que representa Judas Iscariotes, o apóstolo traidor, o momento culmina com a sua condenação, enforcamento e destruição por meio de fogo e efeitos pirotécnicos, perante o olhar atento de dezenas de populares.
Mais do que um espetáculo de fogo e fúria, a “Queima do Judas” é uma sátira popular que encarna a rejeição do mal, a crítica social e, simultaneamente, a expiação coletiva de pecados, culminando numa celebração festiva com raízes profundamente ligadas ao ciclo agrícola e à renovação primaveril.
Segundo os estudiosos, este ritual, embora enquadrado na tradição judaico-cristã, pode ter origens mais remotas, associadas a práticas celtas e ritos de fertilidade. O Judas, neste contexto, não é apenas o traidor bíblico, mas a personificação das forças negativas que se deseja afastar para garantir boas colheitas e um ano de abundância. A sua destruição, através do fogo — símbolo solar e regenerador —, visa devolver equilíbrio e prosperidade à terra.
A Câmara Municipal de Trancoso sublinha que este é um momento de grande envolvência comunitária, onde o passado e o presente se encontram numa celebração que mistura religiosidade, paganismo, crítica social e espetáculo. Um ritual que continua a resistir ao tempo e ao esquecimento, mantendo-se como marca indelével da identidade local.
